Ensinar Pluralidade Cultural ou viver
Pluralidade Cultural?
O
tema traz oportunidades pedagogicamente
muito interessantes, motivadoras, que entrelaçam escola, comunidade local e
sociedade: ampliando questões do cotidiano para o âmbito cosmopolita e
vice-versa, colocando-se assim, simultaneamente, como objetivo e como meio do
processo educacional.
Ao
valorizar as diversas culturas que estão presentes no Brasil, propicia ao aluno
a compreensão de seu próprio valor, promovendo sua auto-estima como ser humano
pleno de dignidade, cooperando na formação de autodefesas a expectativas
indevidas que lhe poderiam ser prejudiciais.
Pela
educação pode-se combater, no plano das atitudes, a discriminação manifestada
em gestos, comportamentos e palavras, que afasta e estigmatiza grupos sociais. O que se coloca, portanto, é o desafio de a escola se
constituir um espaço de resistência, isto é, de criação de outras formas de
relação social e interpessoal mediante a interação entre o trabalho educativo
escolar e as questões sociais, posicionando-se crítica e responsavelmente
perante elas.
É
possível identificar no cotidiano as muitas manifestações que permitem o
trabalho sobre pluralidade: os fatos da comunidade ou comunidades do entorno
escolar, as notícias de jornal, rádio e TV, as festas das localidades,
estratégias de intercâmbio entre escolas de diferentes regiões do Brasil, e de
diferentes municípios de um mesmo Estado.
A
escola deve trabalhar atenta às limitações éticas. O simples fato de os alunos
serem provenientes de diferentes famílias, diferentes origens, assim como cada
professor ter, ele próprio, uma origem pessoal, e os outros auxiliares do
trabalho escolar terem também, cada qual, diferentes histórias, permite
desenvolver uma experiência de interação “entre diferentes”, na qual cada um
aprende e cada um ensina. O convívio, aqui, é explicitação de aprendizagem a cada
momento: o que um gosta e o outro não, o que um aprecia e o outro, talvez,
despreze.
Aprender
a posicionar-se de forma a compreender a relatividade de opiniões,
preferências, gostos, escolhas, é aprender o respeito ao outro. Ensinar suas
próprias práticas, histórias, gestos, tradições, é fazer-se respeitar ao dar-se
a conhecer.
O
discernimento é indispensável, de maneira particular, quando ocorrem situações
de discriminação no cotidiano da escola. Enfrentar adequadamente o ocorrido,
significa tanto não escapar para evasivas quanto não resvalar para o tom de
acusação. Se o professor se cala, ou trata do ocorrido de maneira ambígua,
estará reforçando o problema social; se acusa, pode criar sofrimento, rancor e
ressentimento. Assim, discernir o ocorrido, no convívio, é tratar com firmeza a
ação discriminatória, esclarecendo o que é o respeito mútuo, como se pratica a
solidariedade, buscando alguma atividade que possa exemplificar o que diz, com
algo que faça, junto com seus alunos. O professor precisa saber que a dor do
grito silenciado é mais forte do que a dor pronunciada. Poder expressar o que
sentiu diante da discriminação significa a chance de ser resgatado da
humilhação, e de partilhar com colegas seus sentimentos. Ou seja, trata-se de ensinar
a dialogar sobre o respeito mútuo, num gesto que pode transformar o significado
do sofrimento, ao fazer do ocorrido ocasião de aprendizagem.
Conteúdos a serem trabalhados:
Linguagens da pluralidade, nos
diferentes grupos étnicos e culturais do Brasil
• Artes, em suas diversas manifestações
nos diferentes grupos étnicos e culturais: dança, música, teatro; artes
plásticas, escultura, arquitetura.
• Artes aplicadas, em sua expressão e em
seu uso, pelos diferentes grupos étnicos e culturais: pintura corporal,
indumentária/vestuário; utensílios, decoração de moradias; culinária;
brinquedos.
• Vivências socioculturais, em
particular aquelas de que a criança participe: brincadeiras, como manifestação
cultural e como recriação da criança; festas, como momento de celebração
social, comunitária, familiar.
• Interesse por conhecer diferentes
formas de expressão cultural
Reconhecimento de expressões, marcas e
emblemas produzidos pelas culturas, como portadores de significado e respeito.
• Identificação, representação e
transmissão de símbolos de sua própria cultura.
• Respeito e valorização das diversas
formas de linguagens expressivas de diferentes grupos étnicos e culturais.
Línguas
Bilingüismos e multilingüismos: a
existência de centenas de línguas diferentes no Brasil entre povos indígenas,
em comunidades de fronteiras, em comunidades de diversas origens étnicas e em
outras situações.
• Dialetos, variantes e variação
lingüística: regionalismos; sotaques, gírias, expressões e acentos regionais.
• Literatura e tradição, oral e escrita:
mitos, lendas, histórias; contos; “causos”, cordel; tradições orais.
• Respeito e valorização das diversas
línguas de diferentes grupos étnicos e culturais.
Produção de conhecimento
• Visão de mundo em diferentes culturas,
em diferentes momentos históricos: mitos de diferentes povos e etnias sobre a
origem do universo, do sistema solar, do planeta Terra, da vida; ritos como
cerimônias coletivas, expressivas dos mitos.
• Relação com a natureza em diferentes
culturas, em diferentes momentos históricos: diferentes classificações de
fauna, flora e meio ambiente; diferentes formas de interação entre natureza e
sociedade; técnicas específicas de plantio, caça, pesca, coleta, manufatura e
transformação desenvolvidas pelas diversas sociedades.
• Relação e cuidados com o corpo em
diferentes culturas, em diferentes momentos históricos: princípios alimentares,
o que é bom comer, o que não se come, tradições culinárias; preparação do corpo
para práticas
socioculturais; tratamentos de saúde
utilizados pelos grupos indígenas, africanos, imigrantes, sociedades
tradicionais regionais.
• Interesse pelas diferentes formas de
produção cultural, como instrumentos de transformação social.
• Valorização do patrimônio lingüístico,
artístico e cultural dos diversos grupos, como bem comum a ser preservado por
todos.
O
tema da Pluralidade Cultural oferece exemplos
freqüentemente imediatos de como o cumprimento de direitos é fundamental para
todos. A criança poderá, por exemplo, ter uma introdução aos direitos
culturais, aos direitos dos povos indígenas e das minorias nacionais ou
étnicas, lingüísticas, culturais ou religiosas.
É
claro que não se trata de oferecer um curso de legislação à criança, mas de
colaborar para que ela aprenda que existem instrumentos jurídicos, saiba
reconhecê-los e se familiarize com a possibilidade de consultá-los, para
invocar e defender seus direitos. Como a Constituição Federal de 1988 propõe
direitos individuais e coletivos que representam conquistas históricas, além de
apresentar mecanismos de proteção e promoção desses direitos, a criança poderá
aproximar-se dela, conhecendo onde se encontram os dispositivos que lhe dizem
diretamente respeito. Também a apresentação do Estatuto da Criança e do
Adolescente poderá encaminhar ao conhecimento de que tem direitos e seu cuidado
e proteção são classificados como prioridade social.
Será
importante a criança conhecer situações que exigem mudança urgente do quadro
social, como o trabalho infantil, a violência contra crianças, em uma
perspectiva de valorização da possibilidade de mudança como obra humana
coletiva. Trata-se de abrir intencionalmente espaço para que a escola trabalhe
esses temas, conforme se apresentem a necessidade e/ou importância. O sentido
será o de desenvolver a consciência de que a situação social é passível de
transformação pela organização democrática e pela definição intencional de
prioridades sociais, além do cultivo de sentimentos de solidariedade ativa, de
responsabilidade comum pelos destinos de todos.
Conteúdos a serem trabalhados:
Organização política e pluralidade
Diferentes formas de composição do
poder em diferentes grupos étnicose culturais: coordenação, lideranças,
chefias.
• Mecanismos de participação coletiva:
partidos políticos, sindicatos, conselhos, movimentos sociais, centros
comunitários, grêmios, assembléias,eleições e outros.
• Instrumentos de vida coletiva:
regulamentos, estatutos, cartas de intenção, legislação.
• Mecanismos de informação e comunicação
interna e externa e atenção dedicada à criança: jornais, revistas, rádio, TV,
imprensa comunitária e local
Atitude de iniciativa para estabelecer
alianças e parcerias no exercício da cidadania.
Pluralidade e direitos
• Declaração Universal dos Direitos da
Pessoa Humana como uma conquista da humanidade para todos os seres humanos.
• O papel de declarações, tratados,
convenções internacionais na defesa e aperfeiçoamento da cidadania.
Constituição de 1988 como instrumento
jurídico fundamental do País: direitos e deveres individuais e coletivos;
discriminação e racismo como crime; direitos culturais.
A situação atual da sociodiversidade
indígena, as relações com outros povos e etnias e as responsabilidades do
Estado e da sociedade civil no cumprimento de seus direitos.
• O papel dos grupos étnicos como
protagonistas, no resgate e recriação cultural, no estabelecimento de novas
situações jurídicas, em especial na fase contemporânea, fazendo-se respeitar,
propondo e ensinando novas bases de convivência; a responsabilidade do Estado e
da sociedade civil no cumprimento de seus direitos.
• Estatuto da Criança e do Adolescente,
como instrumento na luta pelos direitos da cidadania da criança.
Situações urgentes no Brasil em
relação aos direitos da criança
• Preconceito e discriminação social e
racial/étnica como formas de injustiça.
• Identificação de problemas sociais que
afetam a vida das crianças.
• Exploração do trabalho infantil.
• Violência contra crianças.
• Repúdio às causas das injustiças
sociais e às violações dos direitos humanos.
• Respeito e solidariedade às crianças que
lutam no seu cotidiano por suas vidas, encontrando formas de responder a
situações precárias, insatisfatórias, de desamparo e de risco.
Fortalecendo a cidadania
• Consulta, com auxílio do professor, a
documentos jurídicos referentes aos direitos da criança (especialmente os arts.
5º, 6º e 227 da Constituição Federal; o Estatuto da Criança e do Adolescente e
a Declaração Universal
dos Direitos da Criança).
• Identificação e desenvolvimento de
alternativas de cooperação na melhoria da vida cotidiana, na escola, na
comunidade, na família.
• Saber do direito ao respeito que têm
todas as crianças, exigindo seu cumprimento.
• Responsabilidade pelo seu ser, como
criança, exigência de respeito para si, cuidados com sua saúde, seus estudos,
seus vínculos afetivos.
Valorização das oportunidades
educacionais de que dispõe, potencializando-as o máximo possível.
• Valorização da solidariedade como
princípio ético e como fonte de fortalecimento recíproco.
Conteúdos comuns a todos os blocos
A aprendizagem dos conteúdos
que se seguem é de suma importância para possibilitar às crianças a
reconstrução significativa dos conhecimentos elencados nos blocos anteriormente
citados.
• Intercâmbio de informações com crianças de diferentes lugares do
País, por meio de cartas, jornais, vídeos, fitas cassete, etc.
• Preparação de roteiros, levantamento e escolha de fontes diversas
para entrevistas, depoimentos, observações, pesquisas, etc., e sua efetivação.
• Reprodução de instrumentos, técnicas, objetos e formas de
representação de diferentes culturas para analisar e compreender suas
estruturas e funcionamentos.
• Uso de textos escritos e orais e representações gráficas
(narrativas, reportagens, pesquisas, objetos, fotos, ilustrações, maquetes,
desenhos, etc.), tanto para busca de informações (levantamento, seleção,
observação,
comparação, interpretação)
quanto para registro e comunicação de dados (anotação, reprodução, discussão,
reinterpretação).
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
Como nos demais temas transversais, os critérios de avaliação
que se seguem destinam-se à orientação do professor na sua tarefa de adequar o
trabalho pedagógico ao processo de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.
Tais critérios definem a expectativa de aprendizagem para o final do segundo
ciclo.
• Conhecer a existência de
outros grupos culturais além do seu, reconhecer seu direito à existência e
respeitar seus modos de vida e suas expressões culturais
Espera-se que o aluno saiba que a nação brasileira
comporta a existência de diferentes grupos sociais — cada um com suas singularidades
— e eles próprios têm histórias e um modo de vida específico. Espera-se também
que relacione a isso o conhecimento de diferentes formas de habitação, de
organização espacial, de vestimenta e outros itens da vida cotidiana, assim
como de expressões culturais diversas, e compreenda que diferentes grupos
humanos produzem diferentes formas de organização político-social e econômica a
que correspondem diferentes modosde organizar o trabalho e a produção de
conhecimentos.
• Conhecer histórias,
personagens e fatos marcantes
para as culturas estudadas e situá-las na História do Brasil
Espera-se
que o aluno possa identificar, na História do Brasil, histórias que foram e são
vividas de diferentes formas, de acordo com a realidade de cada grupo e com as
relações que estabelecem com a sociedade nacional.
• Conhecer a pluralidade existente em
seu próprio meio, relacionando-se de forma respeitosa com suas diferentes
manifestações
Espera-se
que o aluno conheça os grupos presentes em seu meio, seja no Estado, na cidade ou
no bairro, seja na escola e especificamente em sua classe, estabelecendo
relações com o conjunto da população brasileira. Espera-se, também, que esteja
familiarizado com manifestações específicas desses grupos, relacionando-se com
elas de forma respeitosa e amistosa, sem comportamentos que identifiquem o
diverso como exótico.
• Compreender que a pluralidade é
essencial na garantia da liberdade de escolha individual, assim como na
consolidação democrática
Espera-se
que o aluno assimile informações que lhe permitam compreender que a
diversidade, reconhecida e valorizada, fundamenta a pluralidade, abrindo as
possibilidades de escolha para o cidadão, em diferentes esferas de sua vida, e
as diversas formas de organização social e política construídas por diferentes
grupos humanos, as histórias de resistência e conquista do direito aoprocesso
de democratização, fundamentam a democracia, o Estado de Direito, a luta contra
o autoritarismo.
Conhecer a existência dos principais
instrumentos legais que regem o Estado Democrático de Direito brasileiro
Espera-se
que o aluno saiba que o Brasil possui, além de uma Constituição Federal, lei
máxima do País, um Estatuto da Criança e do Adolescente, que diz respeito a ele
diretamente, signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e outros
tratados e declarações internacionais, e que tais documentos são instrumentos
de cidadania, para garantia de direitos, explicitação de deveres e combate à
discriminação.
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Lembrando que os Parâmetros Curriculares Nacionais
representam um primeiro nível de concretização curricular, é importante
salientar que cabe às equipes técnicas e aos educadores, ao elaborarem seus
currículos e projetos educativos, adaptar, priorizar e acrescentar conteúdos,
segundo sua realidade particular tanto no que se refere às conjunturas sociais
específicas quanto ao nível de desenvolvimento dos alunos.
As condições básicas para o desenvolvimento do tema
transversal da Pluralidade Cultural são:
— criar na escola um
ambiente de diálogo cultural, baseado no respeito mútuo;
— perceber cada cultura na
sua totalidade: os fatos e as instituições sociais só ganham sentido quando
percebidos no contexto social em que foram produzidos; e
— uso de materiais e
fontes de informação diversificadas: fontes vivas, livros, revistas, jornais, fotos,
objetos — para não se prender a visões estereotipadas e superar a falta ou
limitação do livro didático.
Para que se possam alcançar os objetivos colocados é
essencial que o trabalho didático das áreas contemple a perspectiva da
pluralidade:
— que se incluam como
conteúdos as contribuições das diferentes culturas. Embora mais evidentemente
ligados a História e Geografia, esses conteúdos referem-se também a Ciências Naturais
(etnoconhecimentos), Língua Portuguesa (expressões regionais), Arte e Educação
Física (expressões culturais). Trata-se de conteúdos que possibilitam o
enriquecimento da percepção do mundo, bem como aprimoramento do espírito
crítico perante situações vividas e informações recebidas, no que se refere à
temática;
— que se organizem
projetos didáticos em torno de questões específicas, eleitas a partir da priorização
de conteúdos considerados fundamentais;
— que se questione a
ausência, nos trabalhos escolares, da ima- gem de determinados grupos sociais
como cidadãos — sem reproduzir estereótipos e discriminações;
— que a equipe pedagógica
discuta permanentemente suas relações e analise suas práticas na busca de
superar preconceitos e discriminações, pois as atitudes dos adultos são o
veículo mais importante para a aprendizagem da convivência.
Organização por ciclos
Em relação à organização
por ciclos é importante que se observem algumas características dessa temática
que implicam diferenciação entre a abordagem inicial (no primeiro ciclo) ou a continuidade
do trabalho (segundo ciclo).
PRIMEIRO CICLO
No primeiro ciclo, a criança aprenderá mais pelo convívio
e pelo intercâmbio. O professor poderá oferecer ocasiões para que se aguce sua capacidade
perceptiva, com relação a diferentes linguagens e à sua valorização, tanto com
o aproveitamento de referenciais dos próprios alunos quanto de outras
oportunidades que se apresentem, por exemplo, por intermédio de programas de televisão
ou reportagens na imprensa escrita.
Situações em que se manifestem preconceitos, seja por
atitudes explícitas, incluindo verbalização, seja por gestos e expressões, não
podem ser ignoradas, porém exigem sensibilidade. Propor atividades que tratem do
ocorrido indiretamente, apresentando situações vividas por personagens
fictícios, pode ser uma forma de encaminhar discussões e orientações, sem expor
pessoalmente cada criança envolvida em episódios desse tipo.
Nesse ciclo é importante colocar a criança em contato com
sua própria capacidade de criação cultural e com o reconhecimento dessa
capacidade em todas as pessoas, o que se poderá fazer em Arte, Educação Física
e Língua Portuguesa.
SEGUNDO CICLO
No segundo ciclo, o convívio e o intercâmbio continuam a
ser fundamentais, podendo enriquecer-se com a aquisição de informações
históricas e geográficas mais específicas da temática. Por exemplo, o trabalho
didático na constituição da Pluralidade Cultural no Brasil poderá envolver o
estudo das regiões de localização de diferentes grupos étnicos, em diferentes
momentos da nossa história, o significado dessa distribuição geográfica na
composição de características culturaisregionais, e assim por diante.
A consulta a documentos jurídicos, acompanhada pelo
professor, poderá ser trabalhada com maior especificidade. Essa consulta será
tão mais proveitosa quanto mais se estabeleçam relações com situações vividas
ou conhecidas pelas crianças. Por exemplo, uma notícia de jornal poderá ser detonadora
de certa reflexão sobre os direitos da criança e do adolescente, assim como uma
situação que se esteja enfrentando de imediato.
Nesse ciclo, expandir horizontes de percepção é possível
e desejável. Aproveitar todas as informações que possam ser obtidas acerca de
culturas e países, explorando-as em diferentes áreas, será uma forma de
sintonizar a criança com o tempo em que vive, colaborando para que estabeleça vínculos
entre o espaço da escola e o mundo.
Valorização do repertório e integração entre o
vivido e o aprendido
O tema da Pluralidade Cultural traz consigo, de maneira
determinante, a temática da participação. De fato, a criação cultural se dá
como obra coletiva, em que se compõem contribuições de muitos. Abrir de fato a
possibilidade de participaçãoda
criança no cotidiano da sala de aula de maneira ativa é colaborar para que
compreenda a própria realidade, enquanto percebe e vivencia apossibilidade de
transformar práticas.
A
participação no cotidiano deve envolver a capacidade de decisão, incentivar a
iniciativa de propor atividades, caminhos alternativos, organização do
dia-a-dia. Envolve também a prática de auto-avaliação contínua do desempenho na
interação em sala de aula e de manifestações críticas aos colegas, combinando
assertividade e cordialidade. É decisivo propiciar um
ambiente respeitoso, acolhedor, que inclua a possibilidade de o aluno trazer
para a sala de aula seu próprio repertório lingüístico e cultural. Falas,
costumes, saberes, tradições diversas que sejam trazidas pelos alunos comporão
uma base para a ampliação de informações sobre outras culturas. Conhecer a si
próprio, sua cultura, organizar esse conhecimento de forma que possa dar-se a
conhecer, permitirá a integração entre o vivido e o aprendido.
Esses repertórios, construídos nas relações familiares e
comunitárias trazem elementos culturais diferenciados: a cultura tradicional
que o migrante nordestino traz para as cidades do Sudeste, a cultura do caboclo
na região amazônica, dos imigrantes, dos afrodescendentes, etc. A valorização do
patrimônio cultural do Brasil implica o reconhecimento da diversidade de
padrões culturais que caracterizam a convivência social na escola.
Expressões culturais
Para entender o simbolismo
das expressões culturais, é preciso entender a sociedade produtora daquela
manifestação cultural. O produto cultural de um grupo não pode ser tratado como
um fato isolado. Cada manifestação social fala diretamente do grupo que a
produziu, de relações entre a visão de mundo, hábitos, costumes e valores da
cultura à qual pertencem. Uma forma interessante de trabalhar didaticamente essa inserção do produto
cultural em seu contexto mais amplo é propiciar ocasiões em que a classe possa
criar, em conjunto, suas próprias “expressões culturais”, analisando, com os
alunos, o significado daquele produto cultural para eles, naquele momento, seu
significado no contexto da composição da classe. Criar, por exemplo, símbolos
coletivos da turma trará a chance de discutirem o que é relevante para eles,
que valores e objetivos compartilham, etc.
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